quinta-feira, 17 de junho de 2010

Rush Rush... To live


Quando se é criança tudo parece ser gigantesco, centímetros parecem metros, que, por sua vez, parecem kilometros. E você? Minúsculo, um ponto perdido no meio de tantas outras coisas.

Estou velho e minhas lembranças de quando tinha apenas seis anos são raras. A memória é falha e é preciso passar por algum trauma ou algo realmente importante para que você se lembre 18 anos depois. E, infelizmente, tem uma situação específico que não me sai da cabeça:

Era fim do primeiro semestre no ‘prézinho’. Minutos antes de sair, o programa da professora havia acabado e então ela pediu para que ficássemos de cabeça baixa. Lá fora, nuvens carregadas de água deixavam o dia com cara de noite. Com trovões e a total escuridão, aquilo me assustava enquanto repousava minha cabeça em meus antebraços.

Os primeiros pingos caíam quando o sinal bateu. Tive que sair e, com receio de ficar só durante aquele temporal, meus olhos procuraram rapidamente por alguém conhecido naquela multidão formada por mães e pais. Reconheci o rosto Dela no meio daquelas faces comuns. Ela era prevenida, guarda-chuva nas mãos, e se vestia de acordo com a moda: shortinho, camiseta larga e um walkman com fones gigantes tocando "Rush, Rush", da Paula Abdul; era a década 90.

Subitamente o céu descarregou toda a chuva de uma vez. É São Paulo e, mesmo naquela época, a água logo subiu. Corríamos, eu com minhas pernas curtas e ela com passos largos. Subitamente eu caí, mas não sei exatamente onde. Seria um buraco? Um bueiro? Não lembro, mas poderia ter sido uma poça d'água. Já disse que as pequenas coisas são grandes quando somos crianças. Só lembro que afundei como fosse numa piscina olímpica. Não conseguia respirar... Estava em pânico. Coloquei os braços para cima, uma mão me puxou. Emergi. "Você está bem?", Ela disse enquanto olhava nos meus olhos, tão assustados quanto os dela. Eu tremia dos pés à cabeça, todo molhado e machucado. Automaticamente a abracei, naquele momento, na minha cabeça, ela tinha me salvado, tinha me protegido daquele fim de tarde assustador... Não lembro mais nada depois de ter me refugiado nos braços Dela.

Durante dois meses eu tenho acordado com isso na cabeça. Todos os dias, sem exceção. Contudo, logo em seguida, penso que não posso voltar a ser criança e deixar que meus medos e vícios fiquem maiores do que já são. Porque, se eu cair dessa vez, infelizmente Ela não estará aqui para me ajudar. Nem me abraçar e dizer: “Calma, está tudo bem.”

2 comentários:

Anônimo disse...

Run Forrest!
Ou vai deixar escapar quem vai estender a mão pra vc sempre que precisar?

Anônimo disse...

*-*
Que lindo! Até me emocionei!
Mas acho que concordo com quem escreveu aí em cima. Todo mundo sabe que vc ama uma pessoa e parece que fica negando isso pra vc mesmo! Pq fazer isso se só te faz mal?!?!?!