terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Espírito de Natal


Gilles de Rais era bem quisto, sangue azul e um dos mais importantes nobres da aristocracia de Orleans. Logicamente não batia bem, pois não é qualquer pessoa que luta ao lado de Joana D'Arc e sai psicologicamente ileso. "Deus é francês e quer-nos livre do domínio da inglês".

Aos 19 anos Joana virou churrasco, mas Orleans estava livre dos ingleses e Gilles se enclausurou em seu castelo. Aos poucos seu círculo social mudara de santas para bruxas, alquimistas e sadistas. Os festejos eram formados por bebedeiras, sexo e crianças... Muitas crianças.

Deixarei bem claro: a bebida era a entrada e as crianças o prato principal: Eram estupradas de todas as formas possíveis e por todos os orifícios que dilatam. O apetite era tão grande que entre 1432 e 1440 foram contabilizados o desaparecimento de mais de mil meninos entre 8 e 10 anos.

Atualmente, mais precisamente 569 anos depois, a sociedade leva a sério as crianças. Coma chegada do Natal é normal nos preocuparmos com o bem-estar de todos, com aquele clima de bondade geral no qual até os ladrões sentem remorso. Contudo, o surgimento dos "Gilles de Rais" toma conta da mídia e dos jornalões nesta época do ano. É sempre a mesma coisa: criança morta, criança estuprada e (o mais criativo) criança com dezenas de agulhas pelo corpo.

Mas, por que as crianças??!? É simples. O espírito natalino é o reflexo de uma necessidade de consumir. Ao ser bombardeado pela mídia com crianças não sintonizadas com os padrões de espírito natalino, é comum todos tentar demonstrar o máximo de preocupação para com aquelas que estão ao seu redor.

"Ah sim, o menino foi estuprado, arrastado pelo carro e depois jogaram ácido em seu rosto. Que coisa horrível. Sinto meu coração doer, devo me preocupar mais com o meu filho e pensar duas vezes antes de gritar com o pirralho do meu vizinho quando ele estiver tocando minha campainha e depois sair correndo."No entanto, há o trabalho, correria do dia a dia, preocupações e outras mil coisas para fazer durantes todos os dias. O que fazer então? Compras presentes, o mais caro que puder consumir, mesmo se este custe o décimo terceiro ou até mesmo uma parte das economias feitas durante o ano. Assim todos se sentirão confortáveis.

O Natal é belo e muito poderoso. Caso Gilles de Reis vivesse nestes tempos, ele conseguiria imitar a sociedade contemporânea: continuaria a comer crianças (bem mais gordas) durante o ano inteiro, porém, durante as festividades do fim de ano e com o bombardeio meláncolico-prol-consumismo da mídia, provavelmente regurgitaria os pequeninos somente para presenteá-los com playstations e barbies.

Acorde-me após o Natal. Estarei faminto.